Romero Britto é um dos artistas mais famosos e importantes do mundo. Brasileiro, nascido em Pernambuco, mas foi nos EUA onde construiu sua carreira. Seu trabalho já foi exposto nas galerias e museus mais prestigiados, em mais de 120 países. Possui milhares de produtos licensiados e parcerias com grandes marcas mundiais como, Disney, Apple e Coca Cola.

 

De onde veio a paixão pela arte ?

Desde criança eu já gostava de arte. Acredito ser um dom do qual me sinto muito abençoado em ter. Nunca frequentei escola de arte alguma na vida. Vendi meu primeiro quadro aos 14 anos para uma vizinha por cerca de 10 cruzeiros, uma colagem em forma de flores de selos postais (tentei primeiramente vender para minha professora, mas ela não quis). Lembro também que um de meus irmãos vendia enciclopédias e eu adorava ler as mesmas sobre arte.

 

Como foi o início da sua carreira ?

Difícil como todo início de carreira. Na realidade parecia impossível, não tinha suporte algum, mas nunca deixei de arriscar ou de acreditar em mim mesmo. Meu sonho inicial era de ser embaixador e de poder conhecer o mundo. Poucos sabem, mas estive no exército militar e apesar de toda pobreza e dificuldade financeira consegui bolsa de estudos para universidade de direito da qual acabei não concluindo para seguir  minha verdadeira paixão, arte. A primeira vez que pintei com pincéis retratei cajus e peixes, já adolescente.

 

O desenvolvimento da sua carreira se dá fora do Brasil. Isso foi um desafio ou uma oportunidade ? E por que ?

Desafio e oportunidade. O que consegui fazer foi basicamente um milagre que foi fruto de muito trabalho, sacrifício, perseverança e coragem. No início em Miami cheguei a vender quadros pintados a dedo em jornal por $50 dólares nas ruas. O maior mercado de arte é nos Estados Unidos e provavelmente se tivesse continuado no Brasil não teria tido o sucesso global que tenho hoje. Nosso país precisa incentivar mais a arte visual e também abrir as portas para arte vindo do exterior.

 

De onde se inspira para produzir suas obras ?

Na vida cotidiana. Em tudo o que gosto, que acho bonito e que é bom. Quero que as pessoas ao contemplarem meu trabalho tenham um sentimento de felicidade e alegria em seus corações. Arte não deveria ser triste ser triste para ser levada a sério.

 

Qual foi o momento “virada de chave” ?

Dois momentos, minha mudança para Miami e a campanha global que fiz para a Absolut Vodka em 1989 ao lado de artistas como Andy Warhol, Keith Haring, Jean-Michel Basquiat e Robert Indiana. Essa trouxe muita visibilidade para o meu trabalho, estilo e minha filosofia sobre arte.

 

Das inúmeras parcerias com diversas marcas famosas, qual foi a mais marcante e por que ?

Já fiz mais de 1000 colaborações e sou considerado o artista mais licenciado da história. Uma das colaborações mais marcantes foi e é com a Disney. Já somos parceiros há mais de 25 anos e amo a história da marca assim como o sentimento de magia e alegria que ela evoca em milhões de pessoas através de seus filmes, desenhos, parques e produtos.

 

Quais as suas obras favoritas e por que ? E qual a mais desafiadora ?

Todas são muito especiais por mais simples ou mais complexas. A mais difícil e complicada foi a criação e instalação da maior escultura que já existiu na história do Hyde Park em Londres, uma pirâmide de muitos metros celebrando o aniversário do Tutankhamun's e da qual demorei quase 1 ano para pintar a mão. Celebridades e dignatários como o Príncipe Charles vieram a inauguração.

 

Em todos esses anos de carreira, tem alguma história engraçada que marcou e pode nos contar ?

Tenho várias histórias como podem imaginar. Estou trabalhando em um livro e em um filme já em pré produção e em breve poderei compartilhar com todos.

 

Você já foi chamado de novo Picasso. Qual o significado dessa comparação para você? Quais similaridades vocês possuem ?

Sinto-me honrado com a comparação e ouço dizerem em geral que é pela genialidade do trabalho cubista, das formas e cores. Também me dizem que é pela alta produção artística (Picasso fez mais de 50,000 obras de arte em vida), pelo sucesso financeiro e pelo reconhecimento e fama global. Picasso foi pessoalmente meu artista favorito e fico feliz em ser comparado a ele apesar de cada um de nós termos desenvolvidos estilos únicos que são reconhecidos facilmente por todos. Picasso assim como eu foi também muito criticado e polêmico, não compreendido por muitos e apesar de amado ou odiado entrou para a história e sua arte sempre evocou algum tipo de sentimento, positivo ou negativo, no espectador. Acredito que o objetivo da arte em geral é a de despertar algum tipo de sentimento, qualquer que seja, nas pessoas.

 

Várias celebridades, mundialmente famosas, possuem, obras suas, em casa. Qual o segredo do sucesso de Romero Britto ?

Trabalho duro, consistência, dedicação, perseverança e amar o que faz. Enquanto alguns perdem seu tempo me criticando continuo pintando.

 

Qual foi o momento mais desafiador em toda sua carreira ?

Existiram vários, mas diria que a solidão na ascensão ao sucesso.

 

Você é um dos brasileiros mais influentes do planeta. Como lidar com tamanha responsabilidade ?

Tenho uma grande responsabilidade e sou consciente disso. Me esforço ao máximo para não desapontar meu país, meus amigos, meus fãs e colecionadores. Sempre coloco o que minha arte representa e a sua filosofia primeiro.

 

Existe algo que tem muita vontade de fazer e ainda não fez ?

Sempre vai existir. Preciso de tempo. Quero ter exibições da minha arte em museus de todos os países do mundo. Também quero visitar a grande barreira de corais na Austrália, Amazônia e algum dia a Lua ou Marte. Tenho vontade de criar um centro de entretenimento e museu sobre minha arte ainda vivo onde pessoas possam conhecer meu trabalho, minha história e sentirem inspiradas e com alegria.

 

Fale-nos sobre o “Happy Art Movement”.

Fundei o Happy Art Movement com a missão de inspirar felicidade, diversão, amor e otimismo em todo o mundo através da minha arte alegre, única e de cores vibrantes. Dediquei minha vida e trabalho a explorar a natureza e a essência da felicidade, enquanto muitos grandes artistas usaram suas obras de arte para ilustrar as sombras de nossas almas e do mundo. Quem tem contato com minhas pinturas ou produtos da marca BRITTO reconhecem imediatamente essa filosofia de vida -  a vida feliz. A felicidade é contagiante, e meu objetivo é criar um mundo com mais compaixão, menos conflitos e um maior senso de propósito e significado. Acredito que iniciei o movimento desde que comecei a pintar em Miami, mas a denominação ocorreu apenas depois de uma observação do meu CEO e amigo Dr. Lucas Vidal que refletiu sobre o tema, sobre os efeitos na vida das pessoas e a importância em dividir esse fenômeno com o mundo.

 

Você tem uma marca global e já colaborou com grandes empresas. Fale-nos sobre o lado empreendedor do Romero Britto.

 Não tem como eu falar do meu lado empreendedor e dos negócios do Grupo BRITTO sem falar do meu talentoso CEO, Dr. Lucas Vidal. Hoje em dia meu tempo está focado apenas na parte criativa, em pintar e em promover minha arte e sua filosofia ao redor do mundo. O Dr. Lucas Vidal é o responsável por todos os planos de negócio e tem uma visão muito aguçada. Durante a pandemia ele iniciou um intenso trabalho de rebranding da marca, reposicionamento e reestruturação operacional, incluindo o desenvolvimento de uma moderna plataforma de e-commerce, a criação de uma nova linha de produtos próprios BRITTO, o estabelecimento de novas parcerias internacionais, além do plano de criação de uma nova rede de varejo nossa com lojas próprias e franqueadas. Ainda nesse período inauguramos a nova sede global em Miami, o BRITTO Palace, que possui cerca de 6,000 metros quadrados e onde trabalham 92 pessoas.

Hoje as marcas BRITTO e Romero Britto Fine Art movimentam anualmente US$ 250 milhões em obras de arte, produtos de marca própria e produtos licenciados – que estão à venda em mais de 30 mil pontos em 120 países. O objetivo é chegar ao faturamento anual de US$ 1 bilhão nos próximos anos.

 

Voce é considerado o artista mais licenciado da história. Talvez, por você também ter esse lado empreendedor, esse seja o grande motivo de incomodar tantas pessoas ?

Sucesso em geral incomoda. Aqueles que criticam não compreendem minha história, arte e filosofia. Acredito em dividir o meu trabalho com o maior número de pessoas possíveis e não somente em restringir a exibí-lo apenas em alguns museus ao redor do mundo. Museus são muito importantes, mas quero ainda mais. Quero que minha arte, através de uma tela ou de um produto, transmita a bilhões de pessoas uma mensagem de felicidade e inspire alegria, amor e otimismo nas suas vidas. Se passarem a observar vão realizar que os grandes museus (Louvre, National Gallery, TATE, MOMA) que exibem famosos artistas como Renoir, Picasso, van Gogh, Da Vinci, Dalí, Warhol entre outros todos possuem lojas internas vendendo produtos com a arte dos mesmos.

 

Você recebe duras críticas por alguns da classe artística. O que acha disso ?

Acho que elas possuem todo o direito e liberdade de expressarem sua opinião, mas creio que é por que nunca tiveram a oportunidade de conhecer ou estudar minha história e meu trabalho (que está sempre em evolução) em profundidade. Com certeza qualquer um que visitar meu ateliê em Miami, o maior estúdio de arte da história com 6,000 metros quadrados (60,000 sqft.), sairá de lá com uma opinião diferente sobre mim e minha arte. Apesar de tudo, o mais importante é que o meu trabalho evoca alguma reação no público e que essa é na grande maioria das vezes é positiva. O meu canvas é apenas um veículo para passar a minha mensagem e visão de alegria, positividade, esperança e amor. O que é indiscutível e ninguém irá mudar é a minha história de sucesso como artista nordestino, pobre, brasileiro que atingiu sucesso global como nenhum outro. Pessoas costumam invejar qualquer um com sucesso. Hoje minha arte é estudada em várias escolas no mundo inteiro e já faz parte da história da arte. Além do mais meu trabalho também está presente nas maiores e mais importantes coleções do mundo. Sinto-me realizado como artista.

 

Como artista, qual a sua visão dos NFTs ?

Já fiz alguns projetos com NFTs. Acredito na tecnologia de blockchain e não tenho medo de experimentar nada que é novo.

 

Milhares de artistas se inspiram em você. Qual o conselho para os que estão começando ?

Dedicação, foco e consistência. Encontrem seu estilo próprio e dividam sua arte com o maior número de pessoas possível. Não tenham medo de errar e não desistam nunca de seus sonhos. Também é importante saber lidar com criticas, desafios e se cercar de boas pessoas.

 

Como quer ser lembrado?

Como o artista da felicidade. Artista batalhador que mudou sua vida e que trouxe alegria para tantas pessoas através de sua filosofia e arte. Uma pessoa boa, honesta, caridosa, leal e cheia de sonhos e esperança. Alguém que sempre buscou fazer o bem e a dar mais do que receber. Ajudo a mais de 200 instituições de caridade e sou membro do conselho de algumas.

 

O que significa arte para Romero Britto ?

Uma linguagem universal que nós seres humanos usamos para nos expressar e comunicar.