O fisiculturista Paulo Jorge de Souza Filho, 26, é mais que um praticante bem sucedido da arte, um arrojado competidor esportivo ou um profissional diferenciado em educação física. Filiado à Confederação Brasileira de Musculação, Fisiculturismo e Fitness (IFBB Goiás), fã de Goku (Dragon Ball Z), Arnold Schwarzenegger e Lou Ferrigno, Paulo Jorge, está entre os que acreditam que o físico escultural significa mais que uma “montanha de músculos”. O fisiculturismo constitui-se um campo que abre caminhos para inúmeros projetos de sucesso na vida e no esporte. Uma prática apaixonante, que envolve o esporte e a beleza do corpo. Ganha cada vez mais espaço e é esporte olímpico. No dia-a-dia do fisiculturismo, o profissionalismo, a técnica e o esforço que exige concentração 24 horas por dia, além de outras finalidades também concorre para superar manifestações isoladas de preconceito motivadas por casos isolados.
Quem é Paulo Jorge ?
Paulo Jorge é um cara que deseja ter uma carreira de fisiculturista muito bem sucedida, quer ser um profissional diferenciado em educação física no Brasil.
Quando surgiu o interesse pelo esporte ?
Me interessei pela musculação em 2009 e logo me identifiquei muito pela área porque estudava muito. Na época ia cursar vestibular, escolhi Educação Física, vi que era uma área de pessoas pouco capacitadas, possivelmente uma área onde iria me destacar, visto que eu estudava muito. Quando entrei na faculdade já tinha uma carga de conhecimento muito maior que meus companheiros de sala e daí veio o interesse de competição no fisiculturismo.
Muitas pessoas veem o Arnold Schwarzenegger como maior inspiração. Quem te inspirou, quem é seu referencial ?
Minha principal inspiração é o meu pai. Ele foi a primeira pessoa que vi treinando e a primeira personificação de mudança de corpo e aquilo me interessou muito. E eu sempre assistia os filmes do Arnold, Stallone, Van Damme, via que os caras eram realmente fortes e eu achava bacana, admirava, me agradava muito aos olhos e como eu fui crescendo foi algo natural.
Você tem algum super herói favorito ?
A principal inspiração sempre foi o Goku, do Dragon Ball Z. Inclusive tenho uma tatuagem no braço dele e do Vegeta (outro personagem do Mangá japonês). Toda vez que ele lutava, crescia muito, ficava muito forte, eu achava muito bonito, comecei a correr atrás para ficar o mais parecido com aquilo. E a musculação trouxe isso pra mim.
Em abril de 2011.
Tanto o Arnold Schwarzenegger quanto o Lou Ferrigno foram uma vitrine para o fisiculturismo, principalmente após o documentário “Pumping Iron”, famoso no mundo todo. Qual a importância deles para o esporte ?
Muito grande. Não que o Arnold fosse a maior inspiração fisicamente falando. Ele tinha um corpo muito bonito, muito diferente na época, principalmente peitoral e bíceps, mas o principal ponto é que ele mostrou ao mundo que os atletas de fisiculturismo não estão limitados apenas a ficar na academia treinando e fazendo dieta para competições, mas abrangem muito mais do que isso. Ele foi muito mais uma mente a frente do tempo dele, do que o próprio corpo. Tivemos alguns atletas que tiveram mais títulos inclusive do que ele, mas que não tiveram a mesma expressão. Outro ponto que vale destacar, ele vislumbrou que o físico bonito abria caminhos para outras áreas, principalmente para o cinema, uma área que na época era muito carente de atores com corpos de maior expressão. Foi a partir do momento que ele mostrou ao mundo que os atletas de fisiculturismo são muito mais que uma “montanha de músculos”, abriu-se caminhos sem limites para nosso esporte.
Falando sobre o esporte, como é a vida/rotina de um fisiculturista ?
É uma vida muito dura, eu digo sempre em minhas redes sociais, que esse mundo é pra gente “doida”, você não pode ser normal para entrar nesse mundo. Você lida com dor o tempo todo. Desde o momento que acorda até a hora de dormir. Você está em algum tipo de sofrimento neste mundo. Sempre. Dor de musculatura, dor de treino, dor de cabeça, renúncia de alimentos. É uma vida difícil. Quando os atletas estão no palco, as pessoas veem um shape bonito, o cara rasgado, mas não veem o caminho que percorreram para chegar ali. O fisiculturismo é um esporte que requer dedicação 24 horas por dia, 7 dias por semana. Não há descanso, você acorda pensando em fisiculturismo e dorme pensando em fisiculturismo. Você acorda pensando em alimentação e dorme pensando em treino. Você acorda com dor de treino e dorme com dor de treino. É uma rotina muito pesada. O fisiculturismo de competição é uma área de muita dedicação onde as pessoas que estão a sua volta precisam te ajudar na sua rotina e precisam ser muito mais “fortes” do que você. Então o fisiculturismo de competição é um esporte de muita dedicação, muita dor e muito sofrimento.
Qual a principal diferença de um atleta profissional de fisiculturismo daquelas pessoas que treinam, fazem dieta, mas que não pensam em competir ?
A principal diferença que eu vejo é que esse tipo de pessoa, que gosta de treinar, ter um corpo bacana, ela tem margem pra erro. Por exemplo, a pessoa não está em um dia legal, decidi sair, comer algo diferente, não vai a academia naquele dia. E eu acho isso muito normal e possível pra quem quer treinar e ter um shape bacana. Um atleta não tem margem pra erro. O fisiculturista sempre trabalha com data. Se eu acordo cansado eu tenho que ir pra academia treinar, se eu estou com fome tenho que fazer mais dieta ainda, se estou fraco eu tenho que treinar. Mesmo em dias ruins não há margem para erro, o meu adversário estará treinando 2 vezes mais pesado que eu, estará fazendo o cardio dele, estará treinando. Então não temos margem para erro. Ou você faz ou você faz, ou você obedece o seu treinador e faz a dieta do jeito que tem que ser feita ou irá se frustrar.
Em relação ao Brasil ? Como é o esporte ?
Eu costumo dizer que o fisiculturismo no Brasil, é um esporte de rico praticado por pobres. É um esporte muito novo que ainda não tem o reconhecimento das pessoas e empresas. Hoje no Brasil, existem algumas empresas de suplementação investindo no fisiculturismo, elas acreditam no esporte e nos atletas. O atleta trabalha muito para conseguir permanecer nesse meio. As federações (NABBA, IFBB) quando se tratam do esporte amador, elas não fazem muita coisa pelo atleta, o que acontece raramente é bancar as passagens para algum campeonato. A IFBB Goiás, a qual tenho imenso prazer em fazer parte, falo com toda tranquilidade, é a melhor do Brasil, as competições tem uma estrutura muito boa e o que pode se comparar seria o campeonato brasileiro. A mídia interfere negativamente, ligando casos isolados de pessoas que fizeram uso de esteroides anabolizantes e acabaram falecendo, diretamente aos fisiculturistas, isso denigri a imagem do atleta e do esporte, mas se você for analisar a vida dessas pessoas, é uma vida desregrada, sem acompanhamento de profissionais especializados, uma vida de festa regada a muito álcool. O Fisiculturismo ainda sofre muito preconceito principalmente por falta de conhecimento das pessoas. O fisiculturista carrega o esporte no próprio corpo, diferente de atletas de outras modalidades.
Hoje temos a explosão da “cultura fitness”, “cultura do bodybuilder” e algo que eu chamaria de “cultura da beleza”, há uma harmonia entre todas elas ?
Eu não acho que exista uma homogeneidade ou competividade. Como você disse, vamos chamar assim “cultura da beleza”, realmente as pessoas querem ficar mais belas. Mas, a maioria não quer abrir mão da comodidade em prol da sonhada beleza. Existem diversas vias, o fisiculturismo na minha percepção é a parte mais saudável. E existe a parte das cirurgias, o que me preocupa. É a maneira mais fácil de se chegar neste “corpo desejado” de forma rápida e sem a saúde ideal. Hoje com o advento da “estética”, existem muitos bons profissionais inclusive que eu respeito, mas existe muito sensacionalismo também, pessoas que prometem resultados milagrosos em alguns procedimentos e poucos dias por exemplo, isso não existe, essa pra mim é a cultura da beleza, onde as pessoas querem resultado sem lutar por ele.
Como é o alinhamento de treino e dieta com seus alunos juntamente com sua equipe ?
É um trabalho feito em conjunto com alguns profissionais. A nutrição e a musculação devem andar em sintonia. A primeira coisa que devemos levar em consideração é a individualidade biológica. Cada corpo tem um tipo de metabolismo e responde a treinos e dietas de maneiras diferentes, por isso deve ser personalizado tanto o treino quanto a dieta de cada um. A outra coisa é a rotina de cada indivíduo, cada pessoa tem uma rotina diferente durante o seu dia, por isso deve-se adaptar a dieta e o treino específico para aquela pessoa levando em consideração sua rotina diária. Portanto, o treino e dieta devem ser personalizados e ajustados de tempos em tempos de acordo com esses 2 fatores expostos além do objetivo proposto. Não existe verdade absoluta nem de treino e dieta, existe o melhor treino e dieta para cada momento. Fatores pessoais e psicológicos devem ser tratados de maneira séria, para que resultados positivos sejam alcançados.
Como é a relação com seus alunos ?
Como sou um atleta de fisiculturismo, atraio alunos que realmente gostam de treinar. São pessoas comuns, mas que gostam de treinar. Eu tenho uma relação de respeito, amizade com meus alunos, mas dentro da academia eu não sou amigo deles, eu sou treinador deles e eles vão fazer o que eu mandar, outro fator importante, eu trabalho com periodização diária de acordo com o feedback dado pelos meus alunos. O treino será personalizado todos os dias para que ele obtenha melhores resultados. Eu acredito que você deva entender o seu aluno naquele momento, naquele dia. A relação interpessoal com os alunos é fundamental atingir os objetivos de cada um. Essa metodologia vem funcionando muito bem e gerando resultados muito bons para meus alunos.
Com essa metodologia de periodização diária, qual é o feedback dos seus alunos ?
Um feedback muito positivo. Como eu atraio pessoas que gostam de treinar, os meus alunos já sabem o meu perfil. Dentro da academia, já ouvi muita coisa, meus alunos me xingam, falam que não vão conseguir, mas depois me agradecem dizendo que o treino foi muito bom e que estão se sentindo muito bem. Até por conta dessa confiança depositada em mim, essa relação acaba extrapolando a academia, alguns alunos já chegam a pedir conselhos sobre o cotidiano e situações do dia a dia.
Pelo fato de você ser um profissional que trabalha pensando sempre na individualidade do seu aluno, provavelmente recebe muitas críticas. Como você lida com as críticas ?
Muito bem. Eu acho que quem não se destaca em algo, ninguém irá comentar sobre. Isso mostra que estou indo no caminho certo. Eu uso as críticas para me motivarem ainda mais. Eu uso das críticas negativas para que eu melhore como profissional e provar para aquela pessoa que meu trabalho está sendo executado da melhor forma possível. Aconteceu um fato interessante, eu já vinha há 2 anos sendo campeão na categoria até 100Kg e esse ano eu perdi para um atleta de Minas Gerais, e eu nunca agradeci tanto uma derrota, percebi que estava me acomodando. Eu nunca me senti tão motivado depois daquele momento e hoje estou na minha melhor forma física.
Como é a relação entre os atletas no fisiculturismo ?
Muito boa. Eu acredito que o fisiculturismo seja um dos poucos esportes que antes da competição os atletas se ajudam, se motivam e falam o que podem melhorar, o respeito é muito grande. É claro que existem algumas rivalidades, atletas que não falam com ninguém, mas isso é a minoria. A maioria são pessoas de respeito, integridade, se ajudam, sempre se comunicando. Eu acho que poucos esportes existam atletas com um nível tão alto de respeito mútuo. Inclusive, eu sempre conto essa história, a primeira vez que subi num palco para competir eu tinha 74kg, encontrei um cara que tinha 18 anos e 100kg, o cara estava com o shape enorme, ele foi um dos meus maiores incentivadores e hoje ele é meu amigo pessoal, inclusive hoje competimos na mesma categoria.
Explique de uma forma clara e simples, o que é o esteroide anabolizante ?
O esteroide anabolizante é nada mais nada menos que derivados da testosterona criado em Laboratório afim de obter explosão, força, potência em maior escala. O esteroide é utilizado em todos os esportes. Por exemplo no atletismo ele aumenta a explosão dos atletas, eles fazem treinos mais explosivos e o esteroide potencializa tal feito. O esteroide anabolizante aumenta a captação de oxigênio no corpo, dessa forma o atleta consegue correr maiores distâncias e ficar em trabalhos aeróbicos em tempos maiores. No caso do fisiculturismo, a testosterona propicia o desenvolvimento de massa muscular maior. No momento do treino da academia o corpo humano está em estado catabólico, isso quer dizer que ao treinar você estará destruindo fibras e o esteroide anabolizante aumentará a síntese proteica e construirá mais tecido. Outro fator a ser mencionado é o balanço nitrogenado positivo, nosso musculo tira da proteína o nitrogênio e retém na musculatura. Esse nitrogênio quando a pessoa está bem alimentada ela encontra-se em estado positivo, ou seja, anabólico. A testosterona aumenta o balanço nitrogenado positivo durante mais tempo. Resumindo, a testosterona retém a proteína ingerida e a utiliza de uma melhor forma no corpo.
Quais os efeitos colaterais do uso de esteroide anabolizante ?
Ele pode causar queda de cabelo, atrofia testicular, agressividade, piora no perfil lipídico, nas mulheres aumento das cordas vocais, aumento do clitóris, entre várias outras. Quando se é utilizado esteroide anabolizante ele inibe o eixo HPT, nosso corpo produz uma quantidade diária de testosterona que o corpo necessita. Quando uma injeção de testosterona vem de fora do corpo com uma quantidade muito maior de testosterona, o corpo para a produção de testosterona. É nesse momento que deve-se haver o maior cuidado. A pessoa não pode parar de uma vez só de aplicar a testosterona, porque o corpo já parou a produção interna, então ocorre o efeito inverso. Tudo deve ser feito com cuidado, informação e instrução de quem conhece todo o processo no corpo, para que os efeitos sejam mínimos.
Fale um pouco sobre o preconceito em relação ao esporte.
Há um preconceito muito grande, principalmente por falta de conhecimento em relação ao esporte. As pessoas falam e criticam mas hoje não ligo muito, relevo. Existem até academias que não gostam de fisiculturistas treinando em suas academias, acham que vão “expulsar” seus alunos. O Brasil é muito atrasado quanto a mentalidade bodybuilder.
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