Quando a inovação encontra o propósito
Inovação
Tatiana Fonseca - Vice Presidente de Operações na Cirion Technologies
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Eu sou engenheira eletrônica. Me formei há quase 25 anos, e desde então lido com a tecnologia em uma base diária. Minha experiência profissional foi em grande parte construída no setor das telecomunicações. Também sou executiva – exerci cargos de liderança por praticamente toda minha vida no trabalho. Enxergar o mundo com essas duas lentes – da engenheira e da executiva – incutiu em mim (mas, na verdade, já trazia isso comigo desde antes) a disposição de, tendo encontrado um problema, agir para resolvê-lo. Equacionar o problema e estruturar uma solução – eis aí minha postura diante das dificuldades.

 

Essa introdução é necessária para entender a história a seguir.

 

Em 2018, meu filho foi diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Uma situação para a qual formação em área alguma prepara alguém: ninguém está (nem estará) pronto para receber essa notícia. A mãe que eu era, como se pode imaginar, sentiu um impacto profundo. E ele ainda reverbera, em alguma medida; é preciso tempo para processar, assimilar e, de certa forma, se despedir de expectativas longamente criadas quanto ao futuro.

 

Mas o impacto passa – e, no meu caso, tendo passado, a engenheira e a executiva logo tomaram as rédeas. Meu filho ser autista era algo que exigia de mim o melhor de minha capacidade de solucionadora – ora, se algo no mundo era decididamente merecedor do meu melhor, era isso. E logo me vi fazendo a mim mesma uma pergunta que uma executiva faria a si mesma: como foi que não vi isso antes? O que eu poderia ter feito para detectar a condição do meu filho mais cedo? Ele tinha pouco menos de dois anos quando recebemos o diagnóstico.

 

Orientada por essa pergunta, comecei a busca. Tentei encontrar exames, técnicas, protocolos, tecnologias e tratamentos. Me deparei com técnicas e tratamentos que ou beiravam a ineficácia ou eram simplesmente ineficazes mesmo. Era frustrante, angustiante. Mas, de certa forma, foi libertador: eu vi que não era eu que não tinha feito suficiente para detectar a condição do meu filho. Simplesmente nada havia à disposição naquela época que pudesse ajudar a diagnosticá-lo.

 

Para que se tenha uma ideia, em 2018 meu filho tinha 1 ano e 10 meses. Nos EUA já haveria condição de ter o diagnóstico – lá se pode fechar o diagnóstico em crianças antes dos 3 anos de idade. No Brasil, o mais comum era que esse diagnóstico ocorresse somente acima de 3 anos - um atraso que agrava em muito a condição de quem está no TEA. Sem diagnóstico, não há laudo, e sem este não há protocolo de tratamento. 

 

Pior ainda é que o autismo varia de de nível de suporte, em função das comorbidades que a criança apresenta – e a lista é difícil de encarar: epilepsia; distúrbios do sono; TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade); distúrbios gastrointestinais e alimentares; ansiedade; depressão e não acaba aí. Segundo pesquisas, 95% das crianças dentro do TEA podem ter até cinco dessas comorbidades ao mesmo tempo. Meu filho teve muitas dessas, em certos momentos.

 

E eu percebi então que teria de ir buscar apoio em outro lugar. Fui aos Estados Unidos conhecer o que se fazia por lá. Aprendi sobre diagnóstico e protocolos para tratar comorbidades e passei a executa-los, mas faltava pensar como tratar as sequelas de um passado o qual ainda eu não sabia como lidar - a neuro inflamação. Obviamente minha dúvida era se isso havia afetado neurologicamente meu filho e poderia atrasar seu avanço nas terapias. Um parêntese aqui para explicar aos pais típicos que o principal desafio de vida de uma família atípica é correr contra o tempo e dentro da janela de oportunidade (idade) onde a criança tem maior neuroplasticidade fazendo-a evoluir de forma mais consistente e duradoura. Aqueles que mais chamaram minha atenção foram os tratamentos que seguiam um caminho que eu conhecia muito bem, há muito tempo: o da tecnologia.

 

Após uma extensa pesquisa e conversa com médicos de confiança, encontrei algo que realmente capturou a minha atenção: foi um tratamento chamado MeRT (Terapia de Ressonância Magnética, na sigla em inglês), um protocolo personalizado baseado na estimulação magnética transcraniana (rTMS). É um tratamento não invasivo, indolor e não se escora em remédios. O rTMS já é usado há mais de 30 anos, sendo aprovado pelo FDA e Anvisa para uso em depressão crônica. 

 

Entretanto, o rTMS tradicional não diferencia os pacientes por sua condição específica. O protocolo de estimulação é realizado sempre com os mesmos parâmetros, tanto na frequência aplicada quanto na região do cérebro em que a estimulação ocorre. O MeRT surgiu como uma evolução do rTMS.  Ele é um protocolo personalizado, com base nas disfunções do padrão das ondas cerebrais identificados no eletroencefalograma do paciente. Desta forma, cada paciente tem um protocolo único, com uma frequência de estimulação individual e com regiões de estimulação distintas, em função das reais necessidades que o paciente apresenta em função da análise do seu eletroencefalograma.

 

Este protocolo vem sendo usado, de forma off-label com sucesso nos Estados Unidos, há mais de 10 anos para diversas condições neurológicas como TEPT (transtorno do estresse pós-traumático), concussão cerebral, TEA, TDAH, ansiedade, otimização cognitiva, dentre outros. Seu uso tem resultado em sucessos documentados em diversos artigos publicados. Não há mais o modelo “one-size-fits-all” que caracterizou os tratamentos disponíveis até hoje. O MeRT age sobre a disfunção, qualquer que seja sua causa – e consegue melhorar o funcionamento cerebral. 

 

Quando começamos o tratamento, logo percebemos benefícios incríveis na vida do nosso filho. A melhora na condição geral de desenvolvimento dele era nítida aos olhos de todos: o estado de presença, a qualidade do sono, o aumento da intenção de fala e na socialização, entre outros ganhos importantes. Nesse momento tive a certeza de que precisaria deste tratamento de forma contínua na vida de nosso filho. Mas como fazer isto, uma vez que o tratamento é de longa duração e era oferecido apenas nos Estados Unidos? Como conciliar a logística de trabalho com a necessidade de ficar entre 40 e 60 dias fora do país, sem falar nos custos exorbitantes desta empreitada?

 

O leitor que acompanhou a história até aqui viu o relato de alguém que não viu outra saída que não tomar o problema nas mãos e trabalhar nele. Nem se trata de criar a própria solução – afinal, estamos falando de uma questão complexa, que envolve ciência de ponta de várias áreas. Não podia fabricar a “roda” – mas devia haver algumas “rodas” a serem encontradas. No Brasil, no que diz respeito a tratamentos para o TEA, havia um espaço enorme ainda para evolução. 

 

Foi quando a engenheira e a executiva em mim precisaram de uma “terceira face”: a empreendedora.  Decidimos abrir um centro clínico para oferecer o protocolo MeRT de forma exclusiva para o Brasil. Desta forma, seria possível tratar o nosso filho no Brasil, e ainda oferecer esta possibilidade para todas as famílias que não teriam condições de fazer esta viagem para usufruir dos benefícios deste tratamento. Neste momento, já com 06 meses de funcionamento e indo para a nossa segunda unidade, e apesar dos imensos desafios que existem em empreender no Brasil, posso dizer que os resultados têm sido reconfortantes. Já são muitas famílias que têm tido sido positivamente impactadas pelo MeRT, com relatos fantásticos de evolução na qualidade de vida dos pacientes, que é o nosso maior propósito. E o melhor de tudo é que estamos apenas no começo.

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