Emoção, Memória e Negócios – Tudo junto e misturado
Empresarial
HELIO CONTADOR - PROFESSOR NEUROBUSINESS - FGV
Helio

Não se pode falar do mundo dos negócios sem falar de pessoas, e pessoas estão sujeitas a reações emocionais que afetam nosso comportamento e por consequência o resultado de nossos trabalhos. As emoções, por sua vez, são consequências de nossos pensamentos, que, por sua vez, interagem com nossas memórias. Parece complicado?

Somos seres constituídos e definidos, por natureza, como seres biopsicosócioespirituais, mas, acima de tudo, somos extremamente guiados pela emoção, muito mais do que pela razão e também sabemos que lembramos mais facilmente das coisas quando estão associadas à fatos emocionais, bons ou ruins. Quando associados às memórias marcadas por experiências ruins ou traumáticas, vêm o medo, a ansiedade, o pânico e a depressão, potencializados pelo nosso instinto primário de sobrevivência, fato esse que os telejornais e a mídia em geral sabem explorar muito bem. Por isso, cuidado onde você coloca seu foco e sua atenção!

Por outro lado, estamos vivendo num ambiente altamente impregnado por energias negativas, que iniciaram com uma pandemia inesperada, de proporções globais e que se mostrou fora de controle dos governantes do planeta, com desinformações de todos os lados, causando danos morais, físicos e financeiros sem precedentes. Além disso passamos por um conturbado período político no Brasil, de grande polarização, que traz enormes incertezas sobre o futuro do nosso país, tudo isso adicionado às constantes notícias de guerras, crises financeiras, terremotos, confrontos sociais e políticos espalhados pelo mundo. Com tudo isso acontecendo, fica fácil de se entender o motivo de tantos casos de estresse, ansiedade, depressão e perda de memória, entre outros, que estão afetando a sociedade como um todo.

E o mundo dos negócios não fica imune à essa situação, uma vez que é feito de pessoas para pessoas, de ser humano para ser humano, ou seja, o crescente número de distúrbios de memória, mesmo que por curtos espaços de tempo, se tornam prejudiciais, não só à vida social e familiar, mas também à profissional. Uma maneira de ajudar nesse processo é entender como o cérebro regula o sistema que determina e prioriza o jeito de como as informações são armazenadas para o uso no curto ou longo prazo.

Temos uma memória de trabalho, também conhecida como memória de curto prazo, que é uma forma de armazenamento temporário de informações. É uma parte importante do processamento cognitivo e permite que as pessoas mantenham informações por alguns segundos ou poucos minutos, enquanto realizam suas tarefas. A memória de trabalho é fundamental para atividades como resolução de problemas, leitura, escrita e realização de cálculos, porém tem capacidade limitada e, por isso, as informações são rapidamente descartadas ou transferidas para a memória de longo prazo, onde podem ser retidas por um período mais longo. Trata-se de uma forma temporária de armazenamento de informações que é crucial para a realização de tarefas cotidianas.

Em um artigo de Neurociência publicado recentemente pela Universidade de Harvard, os pesquisadores exploram os mecanismos por trás da memória e como esquecemos as coisas.

O neurologista Andrew Budson e a neurocientista Elizabeth Kensinger explicam como a memória funciona e compartilham dicas baseadas na ciência sobre como mantê-la afiada à medida que envelhecemos. Descrevo a seguir alguns trechos que considero importantes para a nossa vida diária:

Existem alguns equívocos relacionados ao assunto da memória. Um dos erros mais comuns que se comete está nas metáforas que usamos para falar sobre memória, induzindo a se entender que temos um único compartimento no cérebro que seria uma “pasta” de arquivos que podemos acessar e recuperar sem grande esforço. Nossas memórias representam um processo ativo e trabalhoso e toda vez que estamos trazendo um evento passado à mente, é necessário um certo esforço para reconstruir essa lembrança.

Um segundo equívoco é que existe algo como memória “fotográfica”, que é essa capacidade de lembrar sem esforço de tudo o que você acabou de ver. Raras são as pessoas que possuem essa habilidade.

Ocorre, por outro lado, que algumas lembranças surgem sem nenhum esforço, coisas que nem estávamos tentando lembrar, mas aparecem quando ouvimos, por exemplo, uma música que nos remete ao nosso baile de formatura, ou então quando passamos em frente a um bar e o cheiro de café nos lembra o lanche da tarde que nossa avó fazia com tanto carinho. A mesma coisa vale para lembranças associadas a fatos negativos que nos trazem medo ou angústia.

O terceiro equívoco é que muitas pessoas pensam que o esquecimento é necessariamente ruim e que o ideal seria que nunca ocorresse. Esquecer é importante, porque, se todas as vezes que estivermos tentando fazer uma previsão futura ou entender o que está acontecendo no aqui, no agora, teríamos que percorrer todas as nossas memórias armazenadas e filtrar tudo o que já aconteceu conosco, ou seja, seria totalmente ineficiente e desgastante. Nosso cérebro precisa buscar os fatos do passado que são relevantes para a situação daquele momento.

Segundo Elizabeth Kensinger, em um nível mais básico, queremos pensar na memória como tendo três fases diferentes que devem acontecer para que tenhamos acesso ao conteúdo passado. A primeira é organizar as informações na memória, um processo que é conhecido como codificação. Em seguida, você deve manter essas informações por perto, e isso é chamado de armazenamento ou consolidação.

Fazendo uma analogia, seria algo semelhante a pressionar o botão “Salvar” no documento que você acabou de criar no seu computador, mas, ao contrário dessa analogia, você deve continuamente re-armazenar esse conteúdo no cérebro. E então, finalmente, você deve ser capaz de trazer essa informação à mente quando precisar dela.

As falhas de memória podem refletir erros em qualquer um desses diferentes estágios. Um dos momentos mais comuns em que os erros surgem é na fase inicial de codificação, onde muitas vezes o que acontece é que simplesmente não estamos dedicando esforço suficiente ou prestando atenção nas coisas. Será que isso acontece mesmo? Esse fato só piora quando achamos que podemos fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas na verdade nosso cérebro só processa uma atividade cognitiva por vez.

Uma dica que a pesquisadora nos dá para promover uma rápida associação e permitir uma melhor assimilação do conteúdo é através do uso de mnemônicos, ou seja, um conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização. Consiste na elaboração de suportes como os esquemas, gráficos, símbolos, palavras ou frases relacionadas com o assunto que se pretende memorizar. Um modelo a ser usado é o COER (ou FOUR em inglês) representado pelas letras C (concentrar a atenção), a letra O (organizar a informação) a letra E (entender a informação) e, por último, a letra R (relacionar com algo que seu cérebro já sabe). Parece complicado, mas é questão de treino.

Muitas vezes, quando alguém diz: "Eu fui a uma festa e conheci muitas pessoas, mas não consigo lembrar o nome delas", o erro já começa no primeiro estágio, não prestando a atenção suficiente.

No momento de se querer recuperar uma informação, também podem ocorrer falhas. Por exemplo, qualquer aluno já teve a experiência de, durante uma prova, dar aquele “branco” de não se lembrar a resposta, mesmo sabendo que estudou o suficiente e sabia aquela matéria. Ou então estamos olhando para o rosto de uma pessoa, você sabe quem ela é, mas não se lembra do nome naquele momento. Pior ainda, é quando a pessoa pergunta: você lembra de mim, não é? Daí começamos a buscar desesperadamente “pistas” de recuperação, tais como pensar sobre a última vez que viu essa pessoa, o contexto e as possíveis conexões com outras pessoas.

Um fator fundamental para se armazenar as informações para que tenhamos acesso a longo prazo a elas, é o sono. Dormir com boa qualidade e o tempo suficiente é uma das coisas mais importantes que podemos fazer e é durante o sono que filtramos e consolidamos os fatos ocorridos durante o dia, para transformá-los em memórias de longo prazo, ou simplesmente descartá-los. Sabemos também que, além do sono, para manter nossos cérebros saudáveis é preciso cuidar adequadamente da saúde física, mental e espiritual. Alimentação saudável e boa hidratação, praticar regularmente exercícios físicos aeróbicos, ser socialmente ativo (boas leituras, viagens, cinema, teatro, museus, aprender um novo idioma ou a tocar um instrumento musical etc.) além de praticar exercícios como palavras cruzadas, jogar xadrez etc.

Espiritualmente falando, independentemente do aspecto religioso, quando buscamos algo que transcende nossa vida material e nos conecta com o EU cósmico, como um ser universal, trazemos uma maior leveza para enfrentar as dores e desafios diários a que todos nós passamos. A busca pelo autoconhecimento, de encontrar nossos pontos fortes e nossas fraquezas nos possibilitam o desenvolvimento de virtudes que nos tornam seres humanos e espirituais mais evoluídos. Aprender a usar nossas emoções de forma mais inteligente e o trabalho altruísta completam esse quadro e, juntos, ajudam, e muito, a definir melhor nosso propósito de vida, trazendo mais objetividade, menos sofrimento e mais prazer na nossa jornada terrena.

Para a fase de envelhecimento, desde que não aconteça uma situação de Alzheimer ou outra demência patológica, os desconfortos com a memória são muito comuns e vão aparecer, em maior ou menor grau. Uma boa saída para essa situação, além das citadas anteriormente, é o uso da tecnologia. Não há nada de errado em “terceirizar” sua memória. Qualquer pessoa que queira se lembrar de uma lista de compras ou de um compromisso que está chegando, deve anotá-lo, seja em seu telefone ou em uma agenda eletrônica; use lembretes e calendários. Salve espaço na sua memória física para coisas mais importantes do dia a dia, procurando focar e prestar atenção nas coisas que estão acontecendo no momento presente.

 

Enfim, negócios, memória e emoções fazem parte do dia a dia de qualquer um de nós. Não existem negócios sem pessoas, e não existem pessoas sem emoções. Somos seres em transformação: desde o momento em que nascemos já começamos a envelhecer, a partir do primeiro dia de vida após o nascimento. Aprender a lidar com esse fato e usar todo o conhecimento e recursos disponíveis da ciência, da natureza e do universo vai fazer toda a diferença no cuidado das nossas saúdes física-mental-espiritual!

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