UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE APOSTAS NO ESPORTE
Esportes
MANOELA PENNA - DIRETORA MARKETING ESPORTIVO
Manoela

Cada vez mais sites de apostas estão investindo como patrocinadores no esporte. É um dinheiro novo e abundante, que clubes e entidades – sobretudo no futebol - estão sabendo garimpar bem.  A ponto de na Série A do Campeonato Brasileiro de 2022 os 20 clubes estamparam marcas do setor em seus uniformes.

Se nos gramados Brasil e mundo afora proliferam marcas ligadas ao jogo, nos esportes olímpicos apostas ainda são um “tabu”, com poucas organizações esportivas abrindo espaço para este segmento.

Ampliar a presença de casas de apostas próximas a atletas e eventos é um dilema que passa pela palavra “integridade” e traz a reboque na discussão diversas nuances que tornam a questão ainda mais abrangente. Está em jogo a credibilidade do esporte.

Por todo mundo são levantadas discussões sobre as diversas vertentes do tema “integridade no esporte”: fair play, combate ao assédio e abuso no esporte, éticas e boa governança, enfrentamento ao doping e à manipulação de resultados...

Para nos atermos à questão das apostas – como disse no começo desse texto, um filão financeiro cheio de apetite para crescer –, devemos olhar para iniciativas mundiais que se dispõe a regulamentar o segmento e combater a chamada “marmelada”. E refletir sobre o que tem passado no Brasil.

Em 2011, a Austrália já abordava a questão em um documento do governo local chamado National Policy in Match-Fixing in Sport. Já a UEFA levantou essa bola em 2013, chamando de “câncer” e de “contaminação” a prática criminosa de manipular resultados no futebol europeu, constatada em cerca de 1% das duas mil partidas monitoradas pela entidade em 53 países. De acordo com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), cerca de US$ 1,7 trilhão circulam no mercado de apostas ilegal por ano.

O Comitê Olímpico Internacional não ficou atrás, com a publicação em 2020 de seu manual direcionado às organizações esportivas balizando as regras de patrocínio por parte das operadoras de apostas. Nele, recomendações como educação e sensibilização dos diversos públicos, e a filiação das operadoras ao chamado IBIS – Integrity and Beting Intelligence System, de 2014. Tudo para não deixar o movimento olímpico distante de um mercado que despejou só na Liga de Futebol Americano (NFL) nada menos do que US$ 2 bilhões na última temporada, com contratos com clubes variando de US$ 10 milhões a US$ 200 milhões por ano.

Uma discussão tão relevante que chegou ao Parlamento Europeu, líder da chamada Convenção Macolin, de 2014: “A Convenção Macolin é um instrumento legal e a única regra do direito internacional sobre a manipulação das competições desportivas. Solicita às autoridades públicas que cooperem com organizações esportivas, operadores de apostas e organizadores de competições desportivas para prevenir, detectar e sancionar a manipulação das competições esportivas. Propõe um quadro jurídico comum para uma cooperação internacional eficiente para responder a esta ameaça global”, diz o texto de apresentação da convenção que, entre outros, se apoiou no aconselhamento de sua Comissão de Esportes quanto à imagem do esporte ser fortemente (e negativamente) impactada pela manipulação de resultados.

A Convenção Macolin é considerada, hoje, fundamental, e conta com a adesão de mais de 30 países. Mas ainda não foi assinado pelo Brasil, que se contenta com iniciativas isoladas de entidades esportivas como por exemplo o Comitê Olímpico do Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol e o Comitê Paralímpico Brasileiro.

“A regulamentação adequada das apostas esportivas é um tema de interesse público porque diz respeito à proteção da poupança popular, preservação da integridade esportiva e melhora do ambiente de negócios da indústria do esporte como um todo”, diz o advogado Pedro Trengrouse, consultor de algumas dessas organizações para o tema. “A manipulação de resultados pelas máfias das apostas esportivas é um problema semelhante ao doping e deve ser tratado da mesma forma: uma convenção entre Estados, com o apoio das organizações esportivas e a criação de uma agência regulatória global como a WADA”, ele acrescenta.

É preciso saber que na equação Apostas + Dinheiro o resultado tem, sempre, que ser a credibilidade do esporte.

 

 

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