SÃO OS DADOS, O NOVO PETRÓLEO ?
Inovação
CÉSAR PATIÑO - MENTOR DE STARTUPS E CONSULTOR DE EMPRESAS
Foto cesar

Nos últimos anos é quase impossível  passar por publicações de negócios ou tecnologia sem encontrar os termos Dados, Algoritmos e Inteligência Artificial, sejam eles associados a suas aplicações, desafios ou mesmo à privacidade das pessoas.

 

Em 2006, o matemático britânico Clive Humby cunhou a expressão “Dados são o novo petróleo”  (Data is the new oil).   Mas, apenas em 2017, quando a revista americana The Economist publicou o artigo “The world’s most valuable resource is no longer oil, but data” a expressão ganhou destaque no mundo corporativo, juntamente a outros termos como Monetização de Dados e Ciência de Dados.

 

Refletindo historicamente, é claro que sem os dados e algoritmos baseados em modelos matemáticos,  a humanidade não teria chegado no estágio atual, seria impossível usar o celular ou o computador,  acessar os diversos sites na internet,   buscar tratamentos na medicina ou combater o aquecimento global.

 

Apesar de tudo parecer muito recente, a coleta de dados e a matemática foram uma evolução que tem acompanhado a história humana.

 

Segundo o historiador Yuval Harari, por volta de 70 mil anos atrás, quando a espécie humana ainda  se encontrava na sua forma mais primitiva de existência,  tivemos a Revolução Cognitiva  trazendo ao Homo-Sapiens a capacidade  de criar uma linguagem ficcional e transmitir informações, além de consumir, armazenar e assimilar grande quantidade de conteúdo.  

As pinturas rupestres nas cavernas podem então ser consideradas as primeiras formas de armazenamento de dados da história.

 

Depois disso,  tivemos os egípcios, onde o papiro mais antigo que se tem notícia data de 2.200 a.C. e a palavra papiro (em latim papyrus) deu origem a palavra papel, algo que até hoje usamos para registros de fatos  e dados.

 

Ainda na história antiga  não podemos deixar de  mencionar os gregos com destaque para  Pitágoras de Samos  (570 – a.c. 495 a.C.)  conhecido como o pai da música e da matemática. Na música, dividindo uma “corda”  pela metade, ele descobriu que as notas musicais são frações das notas anteriores.  Na matemática ele criou o famoso Teorema de Pitágoras que até hoje é ensinado nas aulas de matemática nas escolas.  Junto a seus colegas apaixonados por matemática e pela estética das proporções, criaram o movimento chamado Pitagorismo e descobriram a constante algébrica representada pela letra grega Phi (homenagem ao arquiteto e matemático Phidias) e a Proporção Aurea que até hoje direciona os médicos em cirurgias plásticas buscando uma melhor harmonização facial.

 

A história dos matemáticos gregos é tão fascinante que, em 1959, a Disney criou o desenho animado “Donald no País da Matemágica”  para incentivar crianças a se interessarem pela matemática  e eles foram incluídos na jornada do Pato Donald.

 

A paixão do ser humano por registrar, catalogar e armazenar fatos também é antiga e, estima-se que a biblioteca mais antiga do mundo  seja a Biblioteca de Alexandria, ou Biblioteca Real de Alexandria, no Egito. Criada no século III a.C, durante o reinado de Ptolomeu II do Egito, seu acervo chegava a setecentos mil volumes, entre os quais quarenta a sessenta mil manuscritos em rolos de papiro. A biblioteca resistiu até a Idade Média quando perdeu parte do seu acervo num incêndio.

 

Construída em 1800, atualmente, a maior biblioteca é a Biblioteca do Congresso americano em Washington. Ela é a maior do mundo em tamanho (espaço físico) e em quantidade de obras no acervo:  são incríveis 155 milhões de exemplares em mais de 400 diferentes idiomas.

 

No Brasil, a maior biblioteca pública iniciou sua história em 1808 com a vinda da Família Real Portuguesa, dando origem à  admirável Biblioteca Nacional, com sede no Rio de Janeiro,  e seu acervo é composto por incríveis 9 milhões de obras.

 

Continuando a evolução no armazenamento de dados e o uso de algoritmos, chegamos ao primeiro computador da história: o ENIAC  (Electronic Numerical Integrator And Computer).

 

O  projeto ENIAC teve início  em  1943 durante a II Guerra Mundial  e foi concebido para computar trajetórias táticas  e balística que exigissem conhecimento substancial em matemática.  Ele finalmente entrou em funcionamento em Fevereiro de 1946. Tinha 160 kW de potência e utilizava 17.468 válvulas termiônicas consumindo grande quantidade de energia.

 

Os computadores evoluíram para o campo das aplicações comerciais e,  nas décadas de 1960/70 entraram na vida corporativa e na sociedade em geral. 

 

Nas décadas seguintes, ganharam importância em todos os segmentos, especialmente  o setor financeiro que lidava com grandes volumes de transações e cálculos, mas ainda tinham limitações sem suas capacidades de armazenamento e processamento, e o custo era bastante elevado. 

 

A grande evolução que nos trouxe ao estágio atual aconteceu apenas em 2006.

Apesar do conceito  de Cloud Computing ter sido esboçado no meio acadêmico em 1957 por John McCarthy e em 1997 pelo professor Ramnath Chellappa,  apenas em 2006 o conceito foi materializado  e chegou ao mercado corporativo.

 

Cloud Computing (Computação em Nuvem) permite às empresas acesso a grandes infraestruturas de Data Center, com capacidade de armazenamento de dados e processamento virtualmente ilimitados e com baixo custo, num modelo de negócios de pagamento por consumo.   A redução de custos democratizou o acesso a grandes infraestruturas de computadores.

 

Coincidência ou não, no mesmo ano  que alcançamos uma nova forma de armazenar e processar dados com baixo custo, também temos Clive Humby decretando:

 

“Dados são o novo petróleo”.

 

 

Comparando os impactos econômico e social entre petróleo e dados, realmente a analogia faz sentido.

Mas não para por aí, pois, atualmente, os dados são o “combustível” da nova economia e possuem enorme valor e novos modelos de negócios tem sido criados baseados  em dados.

Empresas como Google ou Facebook são os exemplos clássicos, mas até o Waze também está nessa categoria de negócio.

 

Outro ponto em comum é que,  assim como o petróleo, se os dados não forem refinados, são efetivamente inúteis.

O problema é que, atualmente, dois terços dos dados do mundo não são usados. Chamamos isso de “lixo digital” que fica armazenado nos Data Center.

 

Isso significa que todos os dados têm uma pegada de carbono.

 

Estima-se que até 2030, os Data Centers serão responsáveis por 8% do consumo de energia do mundo.   Atualmente, os dados que não são usados ​​novamente depois de criados são responsáveis ​​por mais emissões de carbono do que o setor aéreo.

 

Isso significa que assim como o petróleo, os dados também tem um impacto ambiental e essa é uma questão que todas as empresas que produzem e usam dados precisam estar cientes e assumir sua responsabilidade.

 

O ponto-chave é que o lixo digital não é apenas um problema do setor privado, mas um problema que afeta a todos. As empresas precisam estar cientes que, se estão armazenando dados que não estão usando, estão apenas desperdiçando energia sem produzir valor. Isso é completamente insustentável.

 

Em Junho de 2020, o governo escocês lançou uma estrutura de orientação e recursos para ajudar as organizações do setor público a adotarem serviços em nuvem. Seguiu-se a publicação de um relatório em Outubro de 2021 que analisa como desbloquear o potencial dos dados do setor público da Escócia.  

Ambos indicam o bom progresso que o país está fazendo para se tornar mais sustentável.

 

As empresas precisam se fazer algumas perguntas simples:

Quantos dados temos?

Onde estão armazenados?

Para que os usamos?

 

As empresas precisam ter maior visibilidade sobre os dados que possuem para garantir que estejam armazenando e processando dados de maneira sustentável.

Voltando à analogia de “dados são o novo petróleo”, não se trata de erradicar dados, mas de obter mais “Quilômetros Rodados  por litro de gasolina”.

 

É um desafio que nenhuma empresa pode resolver  – mas cada empresa pode fazer sua parte.

 

 

 

 

 

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