Obsolescência Programada na Moda
Moda
CLAUDIANI LEITE - ESTILISTA E CONSULTORA DE IMAGEM
Claudiani

Não é de hoje que temos o hábito de, mesmo que às vezes ingênuo, trocar nossos bens materiais por outros mais modernos, com design diferenciado e chamativo ou até mesmo minimalista, com mais funções; e tudo isso pelo simples fato de trocar, de ter o que há de mais novo no mercado. Pois bem, a obsolescência programada convive conosco diariamente e em todos os momentos da nossa vida, onde acabamos sendo reféns dela. Primeiramente, vamos falar do significado da expressão “obsolescência programada” e o que ele representa. Obsolescência programada é um conceito que serve para denominar a ideia de que os produtos que consumimos têm um prazo de validade determinado pelo fabricante, assim que são produzidos. É o que se pode observar principalmente na área da tecnologia, onde diariamente somos influenciados pela publicidade e também pela necessidade de estarmos sempre atualizados, criando um ciclo vicioso de compra, que garante que estamos na “moda” ao possuir determinado produto, seja ele carro, celular, televisão e até mesmo vestuários, calçados e acessórios. Vamos então nos aprofundar na obsolescência observada no mundo da moda.

O primeiro exemplo são as grandes Fast Fashion, com suas coleções lançadas de 15 em 15 dias, fazendo com que você sinta a necessidade de comprar para acompanhar as tendências. Isso acaba por gerar consumidores que, de tão atraídos por este vicio, acabam abarrotando seus closets com peças que nunca serão usadas. Naquele mar de tecidos, a peça que foi comprada semana passada ficará de lado, sendo substituída pela nova peça da coleção que foi lançada logo em seguida. No capítulo 7 do livro “Moda Uma Filosofia” de Lars Svendsen, é retratado exatamente como somos hoje: “O consumidor pós-moderno projeta um gozo idealizado sobre produtos cada vez mais novos, uma vez que os velhos e bem conhecidos perdem pouco a pouco sua capacidade de encantar”. O autor também apresenta o ciclo vicioso na moda: compra > descarte > compra novamente. Precisamos entender que o mercado da moda teve como base este ciclo desde as primeiras coleções, mas ao mesmo tempo devemos nos questionar sobre as reais implicações deste movimento que precisa ser repensado. É preciso uma reflexão mais profunda sobre o quanto somos manipulados por uma indústria que é alimentada pelo consumo. Sem esta reflexão acabamos pagando um preço alto. Quem nunca se sentiu atraído por aquela roupinha nova e muitas vezes baratinha na loja?

É curioso quando vamos a fundo nisso e começamos a questionar a durabilidade, qualidade e preço das peças, como e por quem foram feitas. Depois vem o auto questionamento, sobre porque sentimos esta necessidade de ter, de consumir e como esse sentimento influencia no nosso bem estar, será que compramos porque é novo? Ou porque estávamos entediados? Certamente isso é assunto para um debate bastante longo. Para embasar esse debate, gostaria de chamar atenção para os dados que são assustadores. No dia 13 de fevereiro de 2022, foi exibida uma matéria no programa Fantástico que falou sobre o descarte do lixo têxtil em São Paulo–SP, recomendo fortemente que você leitor assista a esta reportagem. Em resumo, são milhões de toneladas de roupas e restos de tecidos que vão parar num aterro sanitário qualquer, pelo fato do descarte incorreto destes materiais, mesma realidade vista no aterro sanitário do Deserto do Atacama no Chile. Só para se ter uma ideia, uma peça feita de uma fibra natural como o algodão, leva cerca de vinte anos para se decompor por completo. Já as peças confeccionadas de fibras sintéticas como o poliéster, estas levam até quatrocentos anos. Apenas no estado de São Paulo, todos os dias são recolhidos cerca de 16 toneladas de resíduos sem o correto destino. Ainda são poucas as pessoas e empresas que recolhem estes materiais no estado para dar uma continuidade à vida útil destes materiais. Como resultado, acompanhamos nos noticiários cada vez mais desastres ambientais, matando animais e poluindo o solo e os oceanos.

Por isso é urgente repensarmos o comportamento do consumismo desenfreado, que causa essa necessidade de trocar nosso guarda-roupa por peças mais descoladas e na moda, estando mais atentos ao processo produtivo e todos os impactos durante a confecção das nossas próximas compras.

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